Uma coisa bacana da era pré-digital era você poder viver sem sentir vergonha alheia. Bastava não se misturar muito e não ir a lugares notórios pelo ajuntamento de idiotas. E, aqueles poucos idiotas com os quais você convivia (impossível evitá-los de todo) não se expunham tanto, especialmente se você não desse brecha. Os néscios, por sua vez, abdicavam de emitir opiniões, pois no cara-a-cara é preciso um pouco de coragem para falar merda, e eles desconfiam que falam merda. Além disso, se manifestar pessoalmente sobre assuntos mais complexos exige uma certa articulação, mesmo quando se fala merda. Tais obstáculos funcionavam muito bem.
Já, na era digital, perdemos toda a proteção e reservas que tínhamos contra a cretinice humana. Pois fica fácil dar vexame sozinho, em casa, atrás de um teclado, ou mesmo pelo celular. Ainda mais quando os semelhantes "curtem". Agora a estupidez invade o nosso lar, e se joga na nossa cara. Enquanto seres sociáveis e gentis, com família, colegas, conhecidos e etc, fica muito difícil não participar de alguma midia social e não ter contato com aqueles que nos "adicionam". Mas, a cada convite aceito, o pavor aumenta, e ele não é injustificado, porque logo aparecem os ataques de vergonha alheia, deflagrados via "feed de notícias". E os vexames seguem um padrão repetitivo, dependendo do perfil da pessoa ou do que ela quer parecer.
Tem o burrão engraçadão com piadas toscas "de homem" e que se gaba por causa de time de futebol - vez por outra também partilha papos sérios de homem, tipo carro ou outras coisas que demonstrem sua natureza de bom macho provedor. Tem a tia recém-largada (chutada) posando de "livre e curtindo a vida finalmente". Tem a jovem encalhada dizendo que "tá bem sozinha"; solteira mas não desacompanhada (claro, tem muita encalhada por aí). Tem a "vitoriosa" exibindo anelzinho de noivado ou foto de casamento. Existe algo mais cafona do que aquelas fotinhas de mãos sobrepostas com o anel em primeiro plano? Engraçado notar que quanto mais a moça "ralou" para "chegar lá", mais ela ostenta. E tem manso que entra na onda (talvez por ordem dela ou medo de perdê-la para outro mais manso), que paga pau público e coloca foto-casal no avatar e no pano de fundo! Tem os emergentes e suas fotos "ostentando" (agora terminologia funkeira) na praia, em Campos do Jordão, em baladas ou mesmo naquela excurção pro exterior, parcelada no cartão. E os pais orgulhosos que só postam fotos do bebê, inclusive no avatar. Incrível como os recém-desencalhados, noivados, casados e paridos tem esse sentimento de vitória! Como assim, gente? Arranjar outra besta prá fazer parzinho é fácil! Tá sobrando! Parir? Mais fácil ainda! Basta gozar dentro e esperar nove meses! Por que tanto orgulho? Tá, eu entendo; a pergunta foi retórica. Prá eles eu criei a sigla "NTPNQ-BP", que significa "Não Tenho Porque Não Quero - Bom Proveito".
Mas nem tudo é ostentação material e "familiar". Tem também os comuns que querem mostrar "conteúdo". Exemplos são as "espiritualizadas" com suas mensagens cristãs, ecumênicas ou de auto-ajuda (dependendo do grau de simplicidade mental e hipocrisia). E tem os "inteligentinhos para um mundo melhor" que nada mais são do que bestinhas politicamente corretas e doutrinadas pelo marxismo cultural em suas várias versões, como a feminazi histérica até achar marido, o ativista acéfalo até virar pai de família, o vegano moralista e mestre da ética que ama os animais, etc. Contra eles tem a direita mal-comida, com aquelas mocinhas frígidas dizendo que mulher tem que "se dar ao valor" (que significa só liberar a chavasca prá bom provedor em potencial - um jeito mais respeitável e conservador de se vender) enquanto chama as outras de putas! E os tiozões se metendo a falar contra o aborto e defendendo a "moral da família". E tem as crianças, é claro, com suas fotos "selfie" fazendo caras e bocas e partilhando outras obviedades do universo pop - coisas de criança em geral, ainda que já passadas dos 20 ou 30 anos de idade. Tem também os "entendidos" de música, cultura e arte em geral, que são fãs do Caetano e do Chico - ainda naquela onda de "cabecismo" esquerdista MPBesta, que costumam ser mestres do cliché intelectualóide-Zen. E tem outros tipinhos minoritários que não merecem menção. Agora todos se achando no direito de se manifestar ou considerando que a vida deles e suas "vitórias gratuitas" são interessante para nós.
Contra tudo isso, as opções "ignorar" e depois "deletar" - ou algo que o valha - ficam sendo a nossa única proteção, mas bem menos efetiva do que a que tínhamos antigamente contra a praga da mediocridade e seus rebentos: romantismo, crendice e conformidade. Sofrer de vergonha alheia seria o alto e inexorável preço a pagar pela existência na era digital?
Já, na era digital, perdemos toda a proteção e reservas que tínhamos contra a cretinice humana. Pois fica fácil dar vexame sozinho, em casa, atrás de um teclado, ou mesmo pelo celular. Ainda mais quando os semelhantes "curtem". Agora a estupidez invade o nosso lar, e se joga na nossa cara. Enquanto seres sociáveis e gentis, com família, colegas, conhecidos e etc, fica muito difícil não participar de alguma midia social e não ter contato com aqueles que nos "adicionam". Mas, a cada convite aceito, o pavor aumenta, e ele não é injustificado, porque logo aparecem os ataques de vergonha alheia, deflagrados via "feed de notícias". E os vexames seguem um padrão repetitivo, dependendo do perfil da pessoa ou do que ela quer parecer.
Tem o burrão engraçadão com piadas toscas "de homem" e que se gaba por causa de time de futebol - vez por outra também partilha papos sérios de homem, tipo carro ou outras coisas que demonstrem sua natureza de bom macho provedor. Tem a tia recém-largada (chutada) posando de "livre e curtindo a vida finalmente". Tem a jovem encalhada dizendo que "tá bem sozinha"; solteira mas não desacompanhada (claro, tem muita encalhada por aí). Tem a "vitoriosa" exibindo anelzinho de noivado ou foto de casamento. Existe algo mais cafona do que aquelas fotinhas de mãos sobrepostas com o anel em primeiro plano? Engraçado notar que quanto mais a moça "ralou" para "chegar lá", mais ela ostenta. E tem manso que entra na onda (talvez por ordem dela ou medo de perdê-la para outro mais manso), que paga pau público e coloca foto-casal no avatar e no pano de fundo! Tem os emergentes e suas fotos "ostentando" (agora terminologia funkeira) na praia, em Campos do Jordão, em baladas ou mesmo naquela excurção pro exterior, parcelada no cartão. E os pais orgulhosos que só postam fotos do bebê, inclusive no avatar. Incrível como os recém-desencalhados, noivados, casados e paridos tem esse sentimento de vitória! Como assim, gente? Arranjar outra besta prá fazer parzinho é fácil! Tá sobrando! Parir? Mais fácil ainda! Basta gozar dentro e esperar nove meses! Por que tanto orgulho? Tá, eu entendo; a pergunta foi retórica. Prá eles eu criei a sigla "NTPNQ-BP", que significa "Não Tenho Porque Não Quero - Bom Proveito".
Mas nem tudo é ostentação material e "familiar". Tem também os comuns que querem mostrar "conteúdo". Exemplos são as "espiritualizadas" com suas mensagens cristãs, ecumênicas ou de auto-ajuda (dependendo do grau de simplicidade mental e hipocrisia). E tem os "inteligentinhos para um mundo melhor" que nada mais são do que bestinhas politicamente corretas e doutrinadas pelo marxismo cultural em suas várias versões, como a feminazi histérica até achar marido, o ativista acéfalo até virar pai de família, o vegano moralista e mestre da ética que ama os animais, etc. Contra eles tem a direita mal-comida, com aquelas mocinhas frígidas dizendo que mulher tem que "se dar ao valor" (que significa só liberar a chavasca prá bom provedor em potencial - um jeito mais respeitável e conservador de se vender) enquanto chama as outras de putas! E os tiozões se metendo a falar contra o aborto e defendendo a "moral da família". E tem as crianças, é claro, com suas fotos "selfie" fazendo caras e bocas e partilhando outras obviedades do universo pop - coisas de criança em geral, ainda que já passadas dos 20 ou 30 anos de idade. Tem também os "entendidos" de música, cultura e arte em geral, que são fãs do Caetano e do Chico - ainda naquela onda de "cabecismo" esquerdista MPBesta, que costumam ser mestres do cliché intelectualóide-Zen. E tem outros tipinhos minoritários que não merecem menção. Agora todos se achando no direito de se manifestar ou considerando que a vida deles e suas "vitórias gratuitas" são interessante para nós.
Contra tudo isso, as opções "ignorar" e depois "deletar" - ou algo que o valha - ficam sendo a nossa única proteção, mas bem menos efetiva do que a que tínhamos antigamente contra a praga da mediocridade e seus rebentos: romantismo, crendice e conformidade. Sofrer de vergonha alheia seria o alto e inexorável preço a pagar pela existência na era digital?