Eu já estou quase passando da idade de ser pai, mas nunca
cogitei sê-lo. Acho importante esclarecer para as pessoas mais "simples"
que não se trata de gostar ou não de criança. Eu gosto de criança mas, mesmo
assim, não quero tê-las. Da mesma forma, por exemplo, eu gosto de cavalos e
iates, mas não quero tê-los. Por quê? Custam dinheiro e tomam espaço que eu não
tenho e nem vou me matar para tentar ter. E dão um trabalho que eu definitivamente
não quero ter. Simples assim. Entretanto, apesar de ser muito simples, eu sei
que fica difícil de compreender para quem é comum e precisa seguir padrões para
se sentir aceito ou mesmo se ocupar mais.
O mais irônico nessa história toda se passa quando as
pessoas questionam a minha posição com aqueles argumentos emocionais (a favor
da procriação) que eu não preciso citar e, sem querer e nem perceber, ao mesmo
tempo, dão muito mais argumentos contrários! Ao mesmo tempo que dizem que
filhos são a melhor coisa do mundo, se queixam de cansaço, falta de tempo, de
sexo, de energia, de dinheiro, de paz de espírito, etc. Felizmente, eu sou uma
pessoa que aprende com os erros dos outros. Não preciso me queimar para aprender
que fogo queima. Ok, eu confesso: na verdade, quase ninguém me questiona, me
aconteceu poucas vezes, porque eu não dou chance e tenho o mínimo contato
possivel com gente "simples", mas eu sei como é com a maioria das
pessoas não-procriantes, especialmente mulheres.
Assim sendo, independentemente da opinião alheia, eu prefiro
me abster da "melhor coisa do mundo" na opinião da plebe e manter
alguns privilégios que eu tenho: tranquilidade, dinheiro sobrando mesmo
ganhando pouco, todo o tempo do mundo (depois do trabalho, claro), condições de
poder fazer o que eu quiser na hora em que eu quiser, dormir bem e à vontade, ter
uma vida sexual ativa e sem empecilhos, liberdade, poder me mudar a qualquer
momento, viajar, ter tempo para fazer música, esportes, artes, contemplação,
reflexão, leitura, escrever (como faço agora), não ter horários ou obrigações
com quem quer que seja, e nem correr o risco de ser obrigado a lidar com mãe de
filho meu me chantageando depois de divórcio, dar pensão e nem ver prole minha
se transformando em certas coisas que eu acho repugnantes (acontece). Por fim,
não vou ficar esperando auxílio e nem atenção de filho quando eu ficar
velhinho. Não esperar é melhor do que receber porque, mesmo recebendo, nunca é o
suficiente.
Quer dizer então que eu critico quem é pai e acho que não
tem nada de bom na paternidade? De modo algum. Cada um na sua, e sempre tem
algo bom em tudo. Eu consigo enxergar as coisas boas e bonitas na vida de quem
tem filhos. Mas eu apenas não preciso delas e prefiro o que eu tenho. Mesmo
sendo uma pessoa bem sensível, eu tenho o raro poder de colocar a racionalidade
acima dos meus sentimentos. Talvez por isso eu saiba aprender com os erros
alheios, como já mencionei. Vou ser honesto novamente, e nada modesto: eu adoro
esse meu traço de personalidade aristocrático!
E, falando em aristocracia, aqui vai um argumento mais
"filosófico": eu veria um pouco mais de propósito em ser pai em eras
passadas, quando ainda havia algum resquício de seleção natural e honra nas
sociedades humanas. Com o advento do mundo burguês "democrático",
todo mundo passou a ser igual, independentemente de seu valor, a cultura chegou
ao seu nível mais baixo, e vivemos sob domínio dos medíocres, fracos e
degenerados. Na verdade, há uma seleção natural inversa agora - uma "de-evolução"! Os mais fracos
progridem e procriam mais! Vivemos a era dos escravos. Não tenho
"tesão" em colocar um filho neste mundo. Sei que isso está muito fora
da realidade intelectual de quase todo mundo, mas está bem dentro da minha.
Enfim, o que eu fiz aqui não foi uma justificativa pessoal e
nem explicação sem necessidade, mas apenas uma elaboração, um desenvolvimento
de raciocínio, uma análise cultural sobre um tema que me veio à mente hoje, por
eu já ter ouvido muita gente falar sobre isso, não necessariamente comigo mas,
com certeza, muitas vezes.