O Ministério da Mediocridade adverte: o KX é prejudicial à burrice contente, ao conformismo babaca, à inércia covarde, à hipocrisia deslavada, à pseudo-felicidade do cidadão comum, à pose esquerdopata e à idiotice útil.

29 de abril de 2012

Mensagens do bem

Hoje fui lembrado de como o brasileiro, de forma totalmente irresponsável e inconsequente, acha que pode simplesmente presumir que as pessoas são obrigadas a aceitar de bom grado todo tipo de proselitismo (inclusive ecumênico) apenas por ser considerado como "coisa do bem". Talvez porque o próprio estado semi-teocrático faça isso, os indivíduos se achem no mesmo direito - e disso sabemos todos muito bem, pois diversas vezes pessoas de diferentes religiões já nos deram conselhos baseados em sua fé ou até mesmo já nos confrontaram por não partilharmos dela, como se isso fosse assunto da alçada deles. Tal fato é muito comum e faz parte da mentalidade simplória e da atitude desrespeitosa do nosso povo. Mas agora, até empresas! Isso mesmo. Uma amiga acaba de receber um e-mail de feliz aniversário de uma empresa de RH com um bela mensagem que alegam ter sido psicografada por Chico Xavier e vinda de um espírito.

Ora ora... fica assim determinado que a minha amiga deve acreditar em espíritos e na doutrina da seita kardecista, segundo a qual pessoas psicografam mensagens de espíritos. E se não acreditar, azar o dela. Dane-se. Que bela mansagem de aniversário! Não seria isso uma total falta de respeito e uma atitude absolutamente contrária à etiqueta não apenas social mas também empresarial? Obviamente sim. Mas o misticismo idiota do brasileiro não lhe permite enxergar isso. Ele acha bonito proselitizar e também acha que jogar a religião dele na cara dos outros agrega virtude e bondade à figura dele, como se isso ajudasse quem recebe. Se fosse num país onde a diversidade é respeitada, haveriam sérias consequências e tal empresa seria penalizada - se não legalmente, por simples perda de credibilidade no mercado, pois quem vai contratar uma  empresa que se coloca no papel de menino de recados de espíritos escritores? Não seria visto como atitude de empresa séria e nem profissional.

Acontece que minha amiga não é kardecista. Ela achou tal atitude simplesmente ridícula. E, felizmente, ela também não é de nenhuma outra religião; se fosse, poderia ter ficado realmente ofendida, pois sabemos que algumas outras religiões consideram o espiritismo como obra do demônio. E daí? Será que isso passou pela cabeça dos idiotas da tal empresa? Provavelmente não, pois, pela atitude, devem ser "burros do bem", daqueles que acham que coisas que falam de "Deus" são necessariamente bem-vindas por todos, como se "Deus" não variasse de religião para religião, ou como se todos os seres humanos acreditassem num "Deus" e no mesmo "Deus" deles. Chamar isso de burrice é muita gentileza, pois é coisa muito mais séria. Só que no Brasil é assim. Tais atitudes são vistas com benevolência, pois a hipocrisia, o proselitismo "bem-intencionado" e o desrespeito à pluralidade e à individualidade são vistos como bondade. Mas essa eu dispenso, e aqui onde eu moro, poderia dar problemas com a lei. Burros semelhantes devem agora estar me chamando de "intolerante" ou "revoltado", e isso é prova do quão sem noção de princípios básicos de sensatez, civilidade e cidadania eles são. Mas são "do bem", pelo menos até onde proselitizar for sinal de bondade.