Enquanto o Brasil começa a tentar engatinhar para fora da Idade Média, nos deparamos com essa questão polêmica da retirada dos crucifixos de repartições públicas. Dois fatos óbvios pulam logo à nossa frente: primeiro, realmente não há cabimento em pendurar símbolos religiosos em prédios de um estado nomeadamente laico e que deve se manter neutro, isento e fora de questões religiosas - ainda mais se nele residem cidadãos de diferentes credos e alguns sem credo algum. Segundo, é claro que a maioria da população em geral, ainda num estágio místico de desenvolvimento intelectual, vai rejeitar tal "blasfêmia".
De qualquer forma meu ponto aqui é manifestar minha discordância quanto ao modo como tal movimento vem sendo articulado. Minha crítica é: criou-se um "cruzada contra a cruz", onde querem que se retirem as cruzes. Não concordo com isso, pois a questão toma um contorno anti-cristão, e este não é o objetivo dos defensores do estado laico, e nem preciso dizer qual é tal objetivo, pois é auto-explicativo.
Para que a discussão tome um rumo mais produtivo, menos hipócrita e menos proselitista, vamos caminhar para o lado oposto, já que o caminho atual não tem rendido frutos. Em vez de exigir a retirada da cruz, por que não fazer o contrário? Já que os defensores do crucifixo alegam "liberdade religiosa" e outros argumentos um tanto falaciosos e com muita resistência, vamos nos submeter a eles! Pois bem. Mantenham a cruz. Mas já que estão a defender a liberdade religiosa, vamos organizar todas as seitas e religiões do Brasil para que exijam que seus símbolos também sejam pendurados nas mesmas paredes. Ou a cruz é mais digna e não pode dividir espaço? Duvido que os defensores do crucifixo vão se importar em partilhar suas paredes com outros símbolos religiosos, pois todos eles se dizem "democráticos e tolerantes", não é mesmo?
Eis a minha sugestão: em nome de toda essa democracia tolerante e pluralista que nós temos, eu gostaria de ver símbolos umbandistas, kardecistas (se não houver, uma foto de Kardec serve), hinduístas, budistas, taoístas, islâmicos, animistas, ateístas, Jedi e de qualquer outra religião, "filosofia" ou posicionamento filosófico ou metafísico existente no país e do qual eu não me lembre no momento.
Daí sim, a celeuma chegaria a um fim. Ou todos os símbolos seriam ostentados de forma igualitária e em nome da nossa democracia pluralista e mística, ou todos seriam retirados, pois ia ficar uma coisa bem ridícula e bem representativa da nossa consciência institucional. Alguém me apoia?