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6 de janeiro de 2012

A mediocridade ateísta

Com a famosa "inclusão digital" e a incrível expansão de redes sociais no Brasil, uma aparente alternativa à extrema mediocridade do mundo real repetida na virtualidade são os ateus. Sim, mas nem tanto.

Para começar, o que ateísmo? Seria a ausência de crendices religiosas e sobrenaturais; muito embora, etimologicamente falando, o termo apenas signifique "sem deus". Pessoalmente eu nem me incluo sob tal rótulo, por uma simples razão que vai ofender os crentes: para mim é óbvio que não se acredite em nada disso, uma mera obrigação de qualquer ser que se julgue racional. Ainda mais se o ser em questão vive numa sociedade ocidental onde, embora haja ainda muita crendice, a ciência, a racionalidade e secularismo tenham sido colocados como valores fundamentais e adotados na organização da mesma. E mera inteligência não deveria carecer de rótulos ou bandeiras. Mas entendo tal necessidade em certos casos, como explico a seguir.

E os que adotam tal rótulo como cartão de visitas? Pelo que venho percebendo há tempos, são geralmente jovens adultos, de classe média/alta, bem educados e com alto padrão sócio-econômico, ainda que poucos sejam realmente abastados, pois os ricos parecem não se preocupar com questões filosóficas. Eles empunham a bandeira da "desmitificação" dos ateus perante a sociedade e do secularismo de facto - muito justas e dignas, temos que concordar, pois temos todos o direito de não sermos importunados ou limitados pela fé alheia se vivemos num estado de direito, democrático e laico (ao que consta). Seus "heróis" são cientistas e escritores estrangeiros que dedicam sua obra à causa. Também, intelectuais de peso, muitos dos EUA, país desenvolvido porém com uma mentalidade ainda dominada pela superstição religiosa, tão quanto os miseráveis pelo mundo afora, onde livres-pensadores ainda são figuras exóticas e ainda se manifestam por aceitação. No ensejo, vale fazer aqui a observação de que apenas nos EUA e nos países subdesenvolvidos ainda há alguma necessidade ou interesse em se adotar tal postura "ateísta" pois, em boa parte da Europa ocidental ou mesmo na Ásia, isso nem faz sentido algum.

Continuando, com a análise do modo como eles se enxergam, me parece que se consideram uma elite intelectual, e não deixam de ser, pois são naturalmente mais bem educados e conscientes. Mas o grande engano deles é superestimar o abismo cultural que os separa dos religiosos. Na verdade, trata-se de uma vala apenas. Claro que eu prefiro lidar com eles do quem com mentes ensandecidas pela religião, mas o fato é que eles - em sua grande maioria - também são criaturas extremamente medíocres e simplórias. Todo seu elitismo se baseia em apenas uma perna: se libertaram dos grilhões da religiosidade e da superstição. Ótimo. Mas falta-lhes muito ainda para que se considerem reais pensadores. Falta-lhes originalidade no discurso e, acima de tudo, uma atitude filosófica e intelectual abrangente, que não se volte apenas contra a crendice religiosa, mas contra todo o sistema de crenças e valores no qual a religião se insere. Tentando ser mais direto ao ponto, falta a eles questionar todos os outros aparatos de opressão e alienação da sociedade burguesa. Algo que não fazem em seu discurso e muito menos em sua atitude. Por exemplo: quase todos que conheço são de alguma forma românticos (escravos dos ideais familiares burgueses e cristãos), aceitam os códigos de estética e consumo determinados pela necessidade de projeção de imagem e definição de classe social, partilham com os crentes rituais e  convenções sociais, "gostos" grotescos em artes, ideias (exceto as religiosas, é claro), lazer, consumo, conduta e papéis sexuais, côrte, casamento, família, etc, etc, etc. Muitos deles inclusive são torcedores fanáticos de times de futebol! Oras, onde está tão grande diferença entre eles e a "ralé" crente? A meu ver, inexiste, a não ser pela religiosidade.

Por isso e por muito mais que não vem ao caso escrever, eles não me impressionam e eu não partilho de seu rótulo, de sua atitude e nem de seu glamour. Inclusive, até me mudei para um país onde isso tudo não faz sentido, longe dos crentes e longe dos comuns ateus pseudo-libertos que posam de intelectuais ou de revolucionários, ostentando sua superioridade intelectual enquanto usam aliancinhas, se limitam em vários aspectos, idolatram seus ídolos e vestem a camisa do Corinthians, do Flamengo ou qualquer outro distintivo de mediocridade alienada, pseudo-rebelde e soberba. Nada mais são do que crentes sem Deus. Pensando bem, o rótulo, em seu sentido etimológico simples, me parece perfeito, pois é tudo o que eles são em termos de diferencial: sem deus. Bem menos do que eles pretendem!

Este foi longo e muito. Me desculpem, mas não teve outro jeito. Prometo voltar às 10 linhas.