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23 de novembro de 2011

Espiritismo

Dentre as tolices da classe média há uma que sempre me chamou a atenção pela sua sutileza e "aura" (sem piada) de bona fide. Ela faz parte do reino encantado da religião e é conhecida como "espiritismo". Como sabemos, tal seita nada mais é do que o cristianismo temperado com influências orientais (a parte que alega contato com espíritos e reencarnação) pois, fora isso, é puro catolicismo desburocratizado. Lembre-nos que o oriente estava em alta na época em que o espiritismo foi criado: o século XIX, quando os europeus estavam tendo contato mais próximo com tal região e fascinados pelos seus mistérios, o que gerou uma "modinha" orientalista em vários aspectos da vida europeia; e o religioso não poderia escapar a ela.

Depois da América do Norte, chega também ao Brasil, onde teve um desdobramento curioso: apelou à classe média e alta das cidades por ser algo cristão e "branco" (não aprovado mas também não perseguido pela igreja católica) e por ser uma novidade, vinda da Europa, com toques exóticos. Mas era preciso distingui-lo rapidamente de outros cultos que também alegavam contato com espíritos - as seitas afro-brasileiras, tão injustamente estigmatizadas, perseguidas e até proibidas por uma sociedade escravista, truculenta, racista e hipócrita. Criaram o diferencial "mesa branca", em contraste ao negro, que significa "do mal", africano, sujo, pobre, ralé, cujos espíritos só poderiam ser demoníacos, ao contrários dos que vinham da Europa, é claro. Assim parte da burguesia se sentiu mais confortável e segura para embarcar naquela bobagem mantendo sua elegância e distinção oligárquicos e pseudo-europeus, sem serem confundidos com "a negrada e sua macumbaria diabólica". E tal discriminação meramente racista entre diferentes "espiritismos" ainda existe! Nada como ser branco, limpo, "do bem", chique e "superior", não é mesmo? Algo bem século XIX...

Hoje, ainda sem apresentar nenhuma ameaça às igrajas cristãs tradicionais, a seita já se enraizou de forma muito consistente na cultura brasileira e em todas as classes. Mesmo quem não participa o vê com respeito - com exceção é claro dos cristãos fundamentalistas de outras igrejas. Virou uma espécie de "religião de gente esclarecida" com alguns sonhadores afirmando inclusive que se trata de uma "religião científica" (sic). O que me deixa muito curioso sobre o conceito que eles têm de "científico". Além de "científicos", os espíritas também são reconhecidos por serem muito caridosos e aí entra a sutileza: caridade se confunde com verdade e assim suas doutrinas lunáticas adquirem credibilidade, pois gente tão boa e séria quanto os eles jamais mentiria ou inventaria estórias da Carochinha! Será que não? Vimos na História da humanidade muita coisa sendo inventada tanto por gente ruim como por gente boa, e até mesmo com as melhores intenções. E também sabemos que as mentiras duram quando se acredita nelas.

Hoje muitos crédulos (ou nem tanto) se dirigem a centros onde vão em busca de uma experiência religiosa "científica" (me desculpem mas não consigo parar de repetir isto) e de alento na ilusão de contato com entes queridos (ou nem tanto) que foram desta para uma melhor (ou nem tanto). É natural que o ser humano comum busque analgésicos da alma para uma existência tão oprimida, mas é preocupante ver pessoas instruídas dando a experiência religiosas, puramente místicas, um status de algo além disso, como é o caso em questão. Eles sempre nos lembram que sua seita é caridosa, tolerante e "científica", e eu me sinto na obrigação de lembrá-los de que é apenas uma seita vinda de outras e nada mais, sem prova alguma de suas doutrinas, ainda que faça caridade, tenha em suas fileiras pessoas "boas", esclarecidas e se diga "científica". Mas podem acreditar e gostar. Usar analgésicos é direito de todos.